Na véspera do Dia dos Pais, os brasileiros receberam a notícia que mais de 100 mil famílias não teriam o quê comemorar.
Pais, filhos, netos tinham perdido a batalha para a Covid19. Além dos mortos, a notícia se completava com os mais de três milhões de contaminados.
Desde o primeiro caso registrado no Brasil, em março, até agosto, a impressão que temos é que se passou uma década, que mudou radicalmente a vida do país e do mundo, claro.
Mas vamos nos concentrar no Brasil continente, heterogêneo, desigual e que se tornou um exemplo do que não fazer.
Sabia-se desde o início das discussões e análises sobre a Covid19, que o Brasil não tinha condições de enfrentar a crise sanitária de igual para igual com o coronavírus e precisava de tempo para reorganizar uma rede de saúde delapidada e corroída por décadas de descaso, corrupção e falta de investimento.
Mas em lugar de se estabelecer a união de ideias e planejamento, o que se viu foi um cabo de guerra, de interesses econômicos e políticos que se opunham à preocupação com a sociedade e atendimento dos doentes.
Debates calorosos sobre a necessidade de isolamento social, uso da máscara, distanciamento, abertura da economia, desemprego, auxílio emergencial, reverberaram pelo país, que mostrou mais uma vez a desigualdade e heterogeneidade. Quem tem mais, pode mais.
Nesse cenário, os entes federados lembraram que existia o desprezado, mais igualitário, Sistema Único de Saúde, instituído pela Constituição Brasileira promulgada em 1988. A chamada constituição cidadã determina que é dever do Estado garantir saúde a toda a população brasileira, como também garantir emprego, educação.
Como uma corrida de 100 metros em que o mais rápido é o vencedor, inicia-se a busca por respiradores, leitos de UTI, compras de EPI’s.
A cada passada surgia o fantasma da corrupção, do superfaturamento, da exploração da miséria humana presente em nossa sociedade desde sempre. Agentes públicos e empresários encontraram uma pista macia e que proporcionaria a medalha do dinheiro fácil e enriquecimento rápido.
E em meio a tudo isso, uma população carente de atenção, profissionais de saúde colocando a vida em risco em nome de um atendimento humanizado. Muitos fazem parte das estatísticas de mortes e serão lembrados pelos colegas eternamente. Também eram pais, filhos, netos…
Há seis meses presenciamos um país dividido e esfacelado, uma pandemia longe de controle, milhões de desempregados, milhões de doentes e milhares de mortos.
Entramos agora em uma outra etapa da exploração das vidas dos brasileiros: qual vacina chega primeiro, quem será imunizado primeiro. Mais uma vez presenciamos que os interesses políticos e econômicos se sobrepondo à saúde.